As pessoas que não entendem ironia são muito mais inteligentes
Henrique Szklo
31/07/2018 04h00
Crédito: Istock
Nestes meus quaquilhões de anos escrevendo, ficou muito claro que a maioria das pessoas não entende ou não capta ironia. Bom pra elas. São mais felizes assim. Não perdem tempo com bobagens. Têm uma postura mais positiva da vida. São mais práticas e objetivas. Ou seja, são mais inteligentes.
Dizem os irônicos em sua defesa que quem não entende a ironia leva ao pé da letra o que leu, viu ou ouviu. Não consegue abstrair as afirmações e observar o contexto, a circunstância e a grande fotografia. Dizem que o ser humano é literal. Literalmente. Tudo bobagem. Na verdade, ao não entender uma ironia, o indivíduo está demonstrando uma capacidade intelectual superior.
A pessoa que não faz ginástica mental para compreender afirmações irônicas, na verdade está economizando energia cerebral para utilizá-la em coisas mais relevantes do que a metafísica quântica. As questões da vida real são muito mais importantes. Esse papo de tentar captar sutilezas e segundas intenções em tudo é coisa de quem não tem mais nada o que fazer. Não deve ter boleto para pagar no fim do mês.
Segundo o dicionário Houaiss, ironia é uma "figura de linguagem por meio da qual se passa uma mensagem diferente, muitas vezes contrária, à mensagem literal, geralmente com objetivo de criticar ou promover humor". Ou seja, uma forma perversa e leviana de desestabilizar o status quo, de deixar as pessoas inseguras e ansiosas. Nada de bom se subtrai da ironia.
E tem mais: o irônico é, antes de tudo, um covarde. Ao invés de dizer as coisas na lata, olhos nos olhos, expressar objetivamente o que está pensando, prefere o uso de artimanhas e escaramuças. Não tem coragem de emitir uma opinião clara e objetiva com medo das consequências. Por que dizer uma coisa se você quer dizer o contrário? Diga logo o que você quer. E por que criticar? Por que fazer graça de tudo? Eu não entendo.
Não sei quem é pior: aquele que faz ironia ou aquele que a entende e aplaude. Porque ao aplaudir, estimula o outro em sua atitude infantil e desnecessária. Se todo mundo se recusasse a rir de uma ironia, teríamos muito menos subversivos no mundo. Eles querem plateia. Tire a plateia deles que sua ironia se extingue num instante. Fora que para entender uma ironia, a pessoa precisa ficar perdendo tempo fazendo associações malucas na cabeça. A troco de quê? Puxa, entendi sua ironia. Como sou inteligente. Não, é o contrário. Você está esvaindo sua energia, ocupando seu cérebro com coisas inúteis e sem função prática. O esforço de entender uma ironia desgasta o cérebro e queima neurônios que poderiam ser úteis mais para frente.
A sutileza é outra manifestação supérflua. Nada mais é do que um dos infelizes apêndices da ironia. Quando você está focado em sua vida, em seu trabalho, em sua família, não pode perder tempo tentando interpretar vírgulas, aspas, travessões e, principalmente os três pontinhos, que deixam sempre as questões em aberto e não nos confortam com conclusões prontas e definitivas. Quem quer ficar em dúvida? Quem gosta de pontas soltas? Só mesmo quem de alguma forma se locupleta com sua própria ignorância.
Já o sarcasmo é o irmão mais feio da ironia. Maldoso, ferino, malicioso e vil. Deve ser evitado a todo custo por pessoas que compreendem que a vida não é fácil mas nem por isso é preciso sair por aí tentando destruir o que vê pela frente. Esse pensamento destrutivo só interessa àqueles que não têm empatia com o próximo e, em seu egoísmo, tentam puxar a tudo e a todos para a lama onde vivem. O sarcasmo é típico de pessoas infelizes, frustradas, com problemas de autoestima e que não conseguem encontrar alegria nem sentido para suas vidas, então resolvem importunar os outros, lançando insinuações, provocações, zombarias, tudo para desestabilizar o ambiente que, com toda razão, os rejeita.
Tudo bem criticar. É importante ter espírito crítico. Mas há limites que não podemos nem devemos ultrapassar. E a sociedade como um todo sabe muito bem onde está esta fronteira. Basta observarmos a reação das pessoas diante de nossas críticas. Se elas não gostarem, é porque passamos do ponto. Então devemos recuar e pedir desculpas. Críticas, só as construtivas. Apenas aquelas que não gerem constrangimento nem ofenda ninguém.
Quem gosta de ironia se defende dizendo que é só uma forma diferente e bem-humorada de criticar. Ora, bem-humorada para quem? As raras vezes que percebo que alguém está fazendo uma ironia, não sinto nenhuma vontade de rir. Não acho graça. Em geral, a ironia é ofensiva e deletéria. É muita leviandade as pessoas se intrometerem nas crenças alheias, questionando, futricando, arrumando intrigas, encontrando defeitos onde eles não existem.
Esta mania de querer fazer graça com tudo também é desprezível. Tem coisas que não se prestam ao chiste. As coisas que são importantes pra mim não estão abertas a criticas. O que eu considero certo e errado não pode ser questionado, afinal, levei muito tempo pesquisando.
Pior de tudo é quando juntam ironia com uma pretensa lógica. Mas o que é lógica? Pra que serve a lógica? Ora, apenas para confirmar aquilo que eu já sei. Se por alguma razão contrariar minha visão, é porque está sendo manipulada de forma a confundir e deturpar as informações. Eu detesto quem usa a lógica para corromper o senso comum. Afinal, a expressão já diz: senso comum. Se a maioria acredita que as coisas são de um jeito, é óbvio que elas têm razão. A maioria sempre tem razão. É só você observar uma eleição, por exemplo. Quem tem razão? Quem vence ou quem perde? Percebeu a lógica? Agora te peguei.
Por isso concluí que as pessoas que realmente têm uma atitude positiva e proativa na vida não são afeitas a ironias, sarcasmos e afins. Pessoas inteligentes e práticas que dão importância apenas às coisas relevantes. Que não se satisfazem incomodando os outros, que não querem mudar o que está dando certo, que respeitam as regras e sabem seu lugar na sociedade. No mais, desejo aos engraçadinhos de plantão que não me venham com ironias nos comentários porque vou fazer questão de não entender.
Sobre o autor
Henrique Szklo exerceu durante 18 anos a profissão de publicitário na área de criação, como redator e diretor de criação. Hoje é estudioso da criatividade e do comportamento humano, escritor, professor, designer gráfico, palestrante e palpiteiro digital. Desenvolveu sua própria teoria, a NeuroCriatividade Subversiva, e seu próprio método, o Dezpertamento Criativo. É coordenador do curso de criatividade da Escola Panamericana de Arte e sócio da Escola Nômade para Mentes Criativas. É colaborador também do site ProXXIma, tem 8 livros publicados e é palmeirense.
Sobre o blog
Assuntos do momento observados com bom humor pela ótica da criatividade e do comportamento humano. Sempre com um viés provocador e fugindo do senso comum. E que São Magaiver nos proteja!