Blog do Henrique Szklo http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br Assuntos do momento observados com bom humor pela ótica da criatividade e do comportamento humano. Wed, 17 Oct 2018 22:41:34 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Meu blog foi para a escola http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/10/17/meu-blog-foi-para-a-escola/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/10/17/meu-blog-foi-para-a-escola/#respond Wed, 17 Oct 2018 22:41:34 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=667 Amigos leitores, a partir de agora você pode acompanhar meu blog diretamente na Escola Nômade para Mentes Criativas.

Agradeço ao UOL pela oportunidade.

Um grande abraço a todos e espero vocês no meu novo endereço.

Henrique Szklo

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Os fanáticos deveriam ser as pessoas mais felizes do mundo http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/10/09/os-fanaticos-deveriam-ser-as-pessoas-mais-felizes-do-mundo/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/10/09/os-fanaticos-deveriam-ser-as-pessoas-mais-felizes-do-mundo/#respond Tue, 09 Oct 2018 07:00:11 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=656

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Pensando no nosso momento político, me arrisco dizer que não existem pessoas potencialmente mais felizes do que os fanáticos. Sejam eles religiosos, políticos, esportivos, não importa. Sabem o que querem, o que são e qual a exata solução para todos os problemas. Nem um milímetro para lá, nem um milímetro para cá. Esta certeza inabalável deveria fazer com que eles sofressem muito menos do que quem está sempre cheio de dúvidas. E digo potencialmente porque na verdade eles não são. Ao invés de aproveitarem o conforto psicológico que uma vida cheia de certezas proporciona, passam boa parte de seu tempo cozinhando sua bílis em fogo brando, como se fosse uma poção mágica que, por meio do ódio ao contraditório, vá destruir o ponto de interrogação e a ameaça que ele representa.

Quem questiona a minha crença é um inimigo a ser abatido. Se eu não destruí-lo logo, corro o risco de ser eu o eliminado. Não posso correr o risco de o meu “certo” não ser assim tão inabalável. É melhor eu evitar qualquer possibilidade de isso acontecer. Mas, pasme, pessoas normais (sic) como nós (sic) também fazem o mesmo. Com outra intensidade, mas fazem. É só pensar em alguém discordando de você em algum assunto que lhe seja relevante. Se você não estiver absolutamente tranquilo com relação à sua crença, vai lhe provocar raiva e inconformismo. Porque esta pessoa está lhe dizendo indiretamente que você está “errado”. E isso você não pode admitir. Mas se você não for um fanático não deixará que esta raiva desencadeie em algo mais dramático. Bloqueia e pronto.

Muitas vezes nem é necessário questionar as crenças de um fanático para que ele parta para a ignorância. A simples existência de uma corrente de pensamento diferente já basta para que ele se sinta suficientemente ameaçado e deseje a completa extinção de seu contrário. Isso se dá porque, no fundo, ele também não tem certeza de nada e não pode correr o risco de ver o castelo que lhe protege sendo despedaçado por ele próprio, sem sequer haver a interferência do outro. Seguro morreu agredido por um fanático.

Analise bem a vida e veja se é possível mesmo ter certeza de alguma coisa. O universo vive em constante movimento e evolução. O que era ontem pode não ser hoje e poderá voltar a ser amanhã. É tudo uma questão de opção de vida. Dá mais trabalho ser livre, aceitar as diferenças, questionar. Mas é muito mais rico em experiências e, no meu modo de ver, mais compatível com a dinâmica do mundo à nossa volta. “Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante”. No microcosmo atômico tudo está em constante movimento. Se os átomos permanecem em sua incansável corrida, por que nós temos a petulância de acreditar por um instante que as nossas vidas (e crenças) não devam se movimentar na mesma velocidade e intensidade?

Uma das razões que explicam o comportamento exacerbado dos fanáticos é justamente a dificuldade em lidar com o fracasso e sua consequente frustração. Ao encontrarmos alguma crença que nos eleve a autoestima, nos inocente completamente de nossa responsabilidade pelo inferno em que vivemos e, complementarmente, aponte o culpado por nos fazer miseráveis, a abraçamos com paixão cega e passamos a venerá-la como uma divindade que precisa ser protegida da fúria destruidora de seus negadores. E todo mundo sabe que a melhor defesa é o ataque. O mecanismo é muito simples, por isso tão eficiente com as massas manipuladas.

O ser humano tem uma necessidade inadiável de “saber”, de estar “certo” sobre tudo. O medo de não saber nos apavora. Precisamos de alguma forma encontrar certezas que nos protejam do escuro. Precisamos saber, mesmo que este saber seja só uma invenção, uma quimera apaziguadora. Inventamos a solução e passamos a acreditar nela como cláusula pétrea de nossa constituição pessoal.

E os saberes mais importantes, porque dizem respeito à nossa própria existência, são aqueles de que a filosofia trata desde sempre: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? E muita gente, mas muita gente mesmo, resolveu este problema de uma forma simples e indolor: acreditando em alguma religião ou força espiritual. Isso porque são justamente essas instituições que propuseram as respostas às perguntas desconfortáveis. Nenhuma provada, mas todas carregadas de significados, metáforas, mitos etc. Essas ferramentas têm uma imensa força em nosso imaginário.

A grande virtude das religiões são suas boas histórias. E o ser humano adora uma boa história. E se acreditamos nas histórias, ou seja, nos preceitos da religião, as dúvidas são sanadas, deixando de ser dúvidas e passando a ser certezas, peças perfeitamente encaixadas em nossa estrutura emocional. Isso traz equilíbrio, paz, sensação de conforto. Num nível bastante profundo. Então passa a ser óbvio porque as pessoas ficam perturbadas quando alguém coloca sua religião sob questionamento. Nos sentimos ameaçados em nossas mais profundas crenças e na nossa própria sobrevivência.

É óbvio que isso causa, na melhor das hipóteses, um desprezo profundo pelo responsável por estes sentimentos desagradáveis. E, numa escalada de emoções, provoca o ódio cego e pode muito bem levar pessoas a cometerem atos de extrema violência que, curiosamente, são condenados pela própria religião que foi posta em questionamento. Enfim, mais uma das contradições humanas. É a velha história: eu sei que a religião prega a paz e a tolerância, “mas neste caso…”.

Pense bem: que diferença faz uma outra pessoa acreditar ou não nas mesmas coisas que eu? No que isso me afeta, verdadeiramente? Em nada, não é? Não acreditar não é desrespeito. É apenas outra opinião. Portanto não deveria nos afetar. O problema é que afeta. E muito.

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Hoje o brasileiro é educado pela propaganda http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/10/02/hoje-o-brasileiro-e-educado-pela-propaganda/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/10/02/hoje-o-brasileiro-e-educado-pela-propaganda/#respond Tue, 02 Oct 2018 07:00:08 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=644

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O que mais tem me encafifado atualmente é a postura que a propaganda está tomando nos últimos tempos. Não se fala mais sobre o produto e suas qualidades. Ok, um avanço, já que todos sabemos que o consumo é um gesto emocional e que os argumentos racionais só servem para aplacar nossa culpa, explicando a nós mesmo porque compramos algo que não precisamos por um preço inexplicável. A propaganda demorou a entender, mas agora assumiu que a melhor maneira de manipular o consumidor é atingi-lo direto no coração. A propaganda é o cupido do capitalismo.

A questão é que a propaganda não está se limitando ao seu papel original de tentar associar emoções profundas a produtos e serviços superficiais, com o nobre propósito de levar as pessoas ao consumo desembestado. Algumas mais saidinhas estão se dando o direito de, com muita ousadia e petulância, nos dar lições de vida nos intervalos dos programas. Querem nos ensinar a nos comportar e o nos dizer o que e como pensar. Desculpem-me os mais pacientes, mas não posso admitir que uma cerveja entre na minha casa para me dizer que eu não devo ser misógino, preconceituoso, que preciso respeitar a opinião dos outros, blá-blá-blá! E o pior é que a cerveja nem é lá essas coisas. Não tem moral pra vir dar lições ao consumidor. Deveria se preocupar em melhorar sua qualidade antes de tentar melhorar a minha. Agora uma lanchonete resolveu nos instruir sobre as mazelas do voto em branco. Daqui a pouco um banco vai querer ensinar como se educa os filhos. Opa, já ensina…

Uma coisa é dar exemplos por meio de histórias que referendem a mensagem. Outra coisa completamente diversa é afirmar textualmente o que você quer que as pessoas pensem. E o que uma cerveja e um sanduíche têm a ver com comportamento social. Tá bom, tem tudo a ver, mas isso não lhes confere o direito de apontar o dedo para nós e nos dizer o que é certo e o que é errado.

Este fenômeno pode ser explicado pela ausência de formação cultural e estímulo intelectual de nosso querido povo brasileiro. A falência de nosso sistema educacional ajuda a alimentar este frankenstein social. Não se aprendem mais as mais simples e básicas noções de cidadania em casa ou na escola. Não se aprende mais a respeitar o outro, apenas a manipular os aparelhos e seus aplicativos. O resultado é que vivemos hoje em uma sociedade muito mal educada e, portanto, egoísta. Estamos todos perdidos e ansiosos em meio às necessidades infinitas que somos obrigados a atender. Conclusão: a propaganda também está falhando como principal instituição responsável pela nossa educação.

Propaganda virou autoajuda. Você liga a televisão e parece que está assistindo a versão filmada dos minutos de sabedoria. Esse desvirtuamento acontece por causa de um comportamento muito comum no marketing de hoje. Em vez de exaltar suas qualidades reais, as empresas fazem pesquisas e descobrem o que as pessoas querem ouvir. O que está na moda. E mandam bala nestas mensagens, muitas vezes sem a mínima identidade com suas próprias crenças. Não se pode ensinar utilizando apenas informações que corroboram a opinião dos alunos. Ensinar não é concordar. Não é agradar.

A cerveja está preocupada com o nosso comportamento? Os bancos existem para nos ajudar? Operadoras de celular só ficam felizes quando nos oferecerem preços baixos? A indústria farmacêutica só pensa na nossa saúde? Olha, longe de mim querer decepcionar o leitor, mas posso garantir que a lanchonete está se lixando se a gente vai votar em branco, preto ou vermelho.

Hoje o símbolo máximo de liberdade é ter um jipe caríssimo. Uma liberdade estranha já que você fica preso a uma prestação salgada, IPVA, seguro, custos de manutenção, trânsito infernal, risco de assalto, manobristas descuidados. Liberdade, liberdade… E o pior é que quem compra esse jipe não coloca ele em estrada de terra nem a pau. Um carro caro desses…

Não se iluda. Desde que os donos idealistas de empresas foram substituídos por investidores, a preocupação é uma só: lucro. Se agora eles ficam dando lição de vida a torto e a direito é porque existe um vácuo educacional que eles estão preenchendo com muita competência com o único propósito de faturar a qualquer custo. A propaganda é uma professora muito má. Não está nem um pouco preocupada em informar e muito menos educar. Ela quer doutrinar, isso sim. Em celulares, tablets e no seu computador.

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Mentir faz bem para a pele http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/25/mentir-faz-bem-para-a-pele/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/25/mentir-faz-bem-para-a-pele/#respond Tue, 25 Sep 2018 07:00:46 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=636

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A mentira tem perna curta, mas, como um polvo, tem também vários e longos braços. O convívio social nos impõe o que chamamos de mentira branca para evitar constrangimentos e possíveis rejeições, guardando para nós mesmos nossa opinião sobre quase tudo. Mas será que é assim tão necessário?

Por que não podemos dizer o que pensamos? Porque a forma pela qual a civilização se desenvolveu nos fez medrosos, preguiçosos, mimados e interesseiros. Sensíveis que somos, não podemos ouvir opiniões que ameacem a nossa fantasia de perfeição, sob o risco de um colapso emocional. Desde crianças somos instados a mentir sobre o presente que ganhamos da tia, ou sobre a comida que comemos quando no papel de visitas.

Paralelamente, somos severamente orientados a nunca mentir, porque é muito feio. Quem mente, o nariz cresce, dizem. A partir daí já podemos enxergar um conflito pernicioso que nos acompanha por toda a vida e a maioria das pessoas realmente se perde em sua administração diária. Nossas verdades e mentiras se embaralham em nossas cabeças e acabamos por confundir os momentos apropriados para expressar umas ou outras. O Pinóquio é um fantasma que assombra a mente do homem contemporâneo. Devia estar presente na obra de Freud.

A mentira é a irmã da preguiça

Mentir é o jeito mais fácil e, até prova em contrário, eficiente de se evitar problemas ou de se levar algum tipo de vantagem. Evitamos ser sinceros, enfim, para não sermos expulsos do paraíso, para sermos aceitos, celebrados e, se possível, inquestionáveis. Dá muito menos trabalho e não custa nada. Um cara chamado Henry Mencken disse que é difícil acreditar que um homem está dizendo a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele. Basicamente, mentimos para salvar nossa pele. Daí o título deste artigo.

Muitos evitam ser sinceros para não serem taxados de radicais. Isso porque costumamos confundir os sinceros com sincericidas: indivíduos destemperados que disparam sua metralhadora contra algo ou alguém com quem não concordam, vomitando certezas, exasperando preconceitos, literalmente chamando pro pau aqueles que “merecem” ir pro pau. Estes bastiões das verdades absolutas buscam desvalorizar completamente a posição antagônica utilizando a catarse como ferramenta, o que eu chamo de demência controlada.

Espécies de justiceiros que geralmente começam por um ideal e depois passam a ser reféns de sua sinceridade mentecapta. Descobrem que é mais gostoso fazer sucesso do que ser sensato. Muita gente gostaria de ser assim. Mas exige destemor e estrutura emocional. É exposição demais. Você produz uma legião de adoradores, mas na mesma medida, um exército de inimigos mortais. Não tem jeito, mesmo para ser idiota é preciso de coragem. Por isso mentimos.

O melhor amigo da sinceridade é o anonimato

Os já tradicionais espaços anônimos para comentários de internet são usados como trincheiras daqueles que não têm direito ou coragem de ser sinceros. Estes frustrados de carteirinha ganham força e bravura quando protegidos pelo manto da invisibilidade. Desacostumados que são de exprimir suas opiniões, perdem a mão e partem para a ignorância. Literalmente. E só o fazem porque sabem que podem dizer o que lhes vier na veneta, que jamais serão punidos, nem expulsos de um paraíso que, ironicamente, sequer fazem parte. Para estas pobres almas, o botão “publicar” funciona como uma válvula hydra virtual. Mas não os condeno. Cada um oferece ao mundo aquilo que pode.

Não sou ingênuo em acreditar que a sinceridade absoluta seja libertadora. Ao contrário. Como vimos no parágrafo acima, sinceridade absoluta e irrestrita é tão ou mais nociva que a dissimulação. Nelson Rodrigues dizia, com a propriedade que lhe era marca registrada, que se todos soubéssemos o que os outros pensam, não nos daríamos nem bom dia.

Todos nós temos algo a esconder, segredos de alcova, assuntos que não queremos ou não podemos divulgar em razão de sua condição estratégica ou por não ser algo que possamos exatamente chamar de nobre. Isso é absolutamente normal. Eu desconfio em quem só tem qualidades. Só pensamentos elevados. Só sorrisos. Não existem santos fora do céu.

Mas a mentira não é necessária. É apenas conveniente. E uma conveniência que a longo prazo só nos tem prejudicado. É por isso que eu prego o honesting, ou seja, a sinceridade não apenas com os outros, mas com a gente mesmo. De preferência, bem humorada e fervilhando bom senso. Sem lições de moral ou tentativa de nos humilhar ou a quem pensa diferente. É possível sermos autênticos, mais que isso: é fundamental que o sejamos. Engolir nossas sinceras opiniões e sentimentos provoca úlceras e outros males autopunitivos.

Mas para que o efeito seja positivo, tanto para o emissor quanto para o receptor, é preciso evitar que estas informações cheguem ao outro como um spray de pimenta ou um chapéu de burro. Que, ao contrário, carregue até um componente de simpatia, credibilidade e tolerância. Mas como dá trabalho, ocupa tempo e dispende energia, só de pensar dá uma preguiça danada. É, talvez seja melhor continuarmos mentindo. Inclusive para nós mesmos. Assim evitamos os problemas de pele.

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Meus filhos me ensinaram a amar http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/18/meus-filhos-me-ensinaram-a-amar/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/18/meus-filhos-me-ensinaram-a-amar/#respond Tue, 18 Sep 2018 07:00:06 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=631

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Para mim, ser um bom pai sempre foi mais do que um desejo, mas uma questão de honra. Principalmente naquela fase mais aguda, naqueles anos estratégicos em que se formam caráteres e se forjam personalidades. O esforço foi grande, os erros foram muitos, as dúvidas imensas, mas o amor me empurrou para lugares que eu nem sequer conhecia antes de ser pai.

Posso dizer hoje com tranquilidade que eu não conhecia o amor antes de conhecer meus filhos. Esse amor equivocado e imperfeito que nos move nas direções mais absurdas, que nos carrega às vezes contra a nossa vontade, mas que tem em sua essência uma carga tão profunda de conexão com outros seres humanos, que muitas vezes acaba por nos assustar, por nos encher de dúvidas, por nos arrastar na culpa, nos fazer questionar nossa própria capacidade de tomar decisões minimamente decentes.

Meus filhos me tiraram do isolamento, me inseriram na condição humana e me deram, e continuam dando, aulas de como se enxergar o mundo. Tenho a impressão que sofria de uma espécie de autismo, que me fazia enxergar apenas o meu mundo e só ele. De uma hora para outra precisei romper minha redoma e tentar incorporar primeiro um, depois dois outros indivíduos ao meu pequeno universo. Indivíduos barulhentos e com vontade própria. Porém, a simples existência destes dois novos cidadãos fez com que o universo se expandisse de forma tão surpreendente que eu nem fazia ideia de que existiam universos com este tamanho, com esta complexidade e beleza.

De repente tive de tirar os olhos do meu umbigo e olhar para o lado. Arrumei mais dois umbigos para cuidar. Tive de me preocupar em prestar atenção em alguém além de mim mesmo e não apenas naquele momento, mas com perspectiva de futuro, de construção de vida, de orientação, de exemplo. Apesar da imensa dificuldade em me oferecer desta maneira, o esforço era justificado pelo propósito: não permitir que nenhum deles se transformassem em um indivíduo escondido em sua própria redoma. Que eles conhecessem desde sempre o que é amar e ser amado. O que é ser respeitado em suas diferenças. O que é ter alguém com quem você pode contar em qualquer situação e não apenas naquelas em que todo mundo conta com todo mundo. Que não fossem tantas vezes julgados por suas preferências e modo de pensar. Que eles não quisessem ser bons pais por questões de honra e sim por serem boas pessoas –e que seriam bons pais de qualquer jeito. Que eles não fossem pais modelo, admirados no facebook, preocupados apenas com sua imagem e sim com as verdadeiras necessidades de seus filhos.

Bem, não sei se consegui eu mesmo ser este pai. Como todo mundo, não estudei para ter filhos e acabei tendo de aprender na marra. Acho que fui mais ou menos como o deus da bíblia: no primeiro testamento fui carrasco, exigente, nervoso, agressivo. Mas, em geral, não me arrependo deste comportamento. O papel dos filhos é testar para aprender. E testar em geral significa encher o saco. É preciso paciência e ponderação na criação de filhos. Mas às vezes um grito bem dado tem sua função.

Já no segundo testamento, virei paz e amor. Faz muito tempo que não repreendo meus filhos nem tento dar lições de vida ou de moral. São adultos e converso com eles como tal. Não brigo, não obrigo. Eles se transformaram em adultos conscientes, que pensam além das cercas, humanos, carinhosos, bem informados e, até onde posso ver, com uma bela visão de mundo. Não são perfeitos mas as suas imperfeições não me parecem comprometedoras, suspeito que sou em julgá-los. Não concordo com o que eles pensam em muitos aspectos, mas tenho um imenso orgulho em testemunhar que eles pensam, que pra mim é mil vezes mais importante do que concordar comigo.

Tenho orgulho, mas não sei muito bem se é orgulho deles ou de mim mesmo. Não sei o quanto do que eles são hoje é resultado direto ou indireto da minha influência, da minha dedicação e esforço. Não sei se realizei um bom trabalho resgatando a minha honra ou se apenas tive a sorte de conviver com duas pessoas que, a despeito da minha presença ou ausência, seriam de qualquer maneira seres humanos formidáveis.

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É melhor ter conhecimento ou apenas acesso fácil às informações? http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/11/e-melhor-ter-conhecimento-ou-apenas-acesso-facil-as-informacoes/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/11/e-melhor-ter-conhecimento-ou-apenas-acesso-facil-as-informacoes/#respond Tue, 11 Sep 2018 07:00:53 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=623

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Uma matéria que tem sido discutida exaustivamente é o destino da humanidade, levando-se em consideração que as novas gerações não acumulam conhecimento, apenas têm acesso à informação. Não se aprofundam em nada e navegam apenas na superfície da web. O evento da internet e particularmente dos motores de busca como o Google –com o auxílio luxuoso da Wikipédia — faz com que pensemos se há mesmo sentido gastarmos tempo e neurônios acumulando informações em nosso limitado HD orgânico. As informações estão tão acessíveis e numa quantidade tão abundante, que a nossa memória está sendo poupada e transferida para as nuvens. Literalmente. A internet é a nova biblioteca de Constantinopla. A diferença é que democratizou. Quase todo mundo têm acesso.

Não há hoje uma conversa que não esteja ancorada em buscas frenéticas por informações complementares. Ou até mesmo para se dirimir alguma dúvida que surge. Mas não só as conversas são regadas a wikis dos mais diversos calibres. Qualquer evento que testemunhamos pode despertar uma curiosidade insuportável e nos levar imediatamente aos nossos fones espertos em busca de iluminação. Uma coceirinha na ponta dos dedos. Estava assistindo a final do US Open, por exemplo, e quis saber a nacionalidade da mulher do Djokovic. Em questão de segundos descobri. Depois quis saber a altura dele e a do Del Potro. Rapidamente minha curiosidade foi exterminada, sem antes eu expressar algumas interjeições de surpresa: “Oh!”, “poxa!”, “legal!”. Minha vida mudou alguma coisa? Absolutamente nada, mas é inegável que existe prazer em satisfazer nossa curiosidade.

A discussão deste novo cenário da sociedade, porém, é qual será o futuro da juventude digital? Não absorvem, apenas distribuem as informações. Digamos que a internet é uma pizzaria, a informação é a pizza e os jovens são os entregadores. Motoboys que levam a pizza do ponto A ao ponto B, sem a experimentarem. Sentem apenas o cheirinho, mas pra eles é mais que suficiente. O que vai acontecer com estes meninos? E com o mundo? Seremos um planeta habitado por mentes vazias com celulares na mão? Seremos um grande delivery girando em torno do sol? Não sei. Perguntemos ao Yahoo.

Mas agora é que vem a questão fundamental: quem disse que isso é pior do que é hoje? Quem disse que o acumulo de conhecimento individual é o melhor modelo de sociedade? É claro que há um desconforto dos mais velhos. Provavelmente é preconceito. Um preconceito natural e esperado sempre que novas gerações tomam o mundo de assalto. Trazem novos paradigmas e maneiras diversas de enxergar o mundo. Acontece que construímos padrões em nossos cérebros ao longo de anos e qualquer movimento que questione ou negue nossa visão devidamente testada e aprovada é uma ameaça ao bem estar da humanidade.

Mas pense: você está realmente feliz com as coisas como são hoje? O mundo é uma espécie de paraíso e os jovens são a Eva querendo comer a maçã? Não seria melhor tentar um modelo diferente para ver se as pessoas param de estacionar em vaga para deficientes “só por um minutinho”, se adquirem um gosto musical pelo menos razoável ou parem de descontar suas frustrações fazendo comentários ofensivos na internet sob a proteção do anonimato?

Existe um limite de capacidade em nosso cérebro. Ao longo dos séculos estamos gradativamente aumentando o volume de conhecimento dos indivíduos, sobrecarregando nossa cachola. Hoje, qualquer adolescente espinhudo tem mais informações guardadas em sua cabecinha frágil do que um adulto ilustrado de tempos antigos. Em algum momento, cedo ou tarde, chegaremos ao limite. Copo cheio. Não haverá mais espaço para novas informações. Imagine a tragédia. Morreríamos todos, acredito. Sem capacidade de acumular novas informações, viveríamos uma epidemia de Alzheimer voluntário.

Com o comportamento atual, este perigo é postergado e fica mais distante. Nosso poderoso cérebro poderá se desenvolver em outras áreas. Teremos espaço suficiente para evoluir naquilo que realmente nos interessa. Ninguém precisará de conhecimento genérico nem perderá tempo com informações periféricas. Só aprenderemos o que quisermos. E se não quisermos aprender nada, tudo bem. Bastará um celular. Liberdade, liberdade. Teremos mais condições de refletir, usando as informações acessadas na internet para fazer novas conexões, criando novos paradigmas, evoluindo de forma mais célere e consistente. Isso de refletir não vai acontecer, mas é bonito imaginar.

Aos que gostam de teorias da conspiração, o Big Data irá se transformar em breve em nossa memória coletiva. Seremos todos alimentados por uma mesma entidade que, obviamente, estará nas mãos das grandes corporações que, como sempre, nos controlarão como ratinhos de laboratório. Gustav Jung, se vivo, talvez considerasse que os Grandes Servidores, como serão conhecidos no futuro, serão nosso consciente (e não inconsciente) coletivo. Não será mais necessário estudar arquétipos encontrados especialmente nas cartas de tarô. São Google será nosso oráculo, onde esclareceremos todas as nossas dúvidas. Nosso presente, nosso passado, nosso futuro, de onde viemos, para onde vamos, se existe vida depois da morte, se existe Deus e se o Tiririca vai ser eleito de novo.

Não preciso dizer que tudo isso que escrevi não passa de ilações e invencionices de uma mente irresponsável. Um futurismo mequetrefe que de tão estapafúrdio provavelmente se realizará, tamanha é a capacidade do ser humano de fazer merda. Mas garanto que pensei em tudo sozinho. Não consultei ninguém. Sei que foi um risco, mas calculado. Não entrei na internet uma vez sequer. Sim, isso é possível.

Mas tudo isso só será possível graças a um grupo muito especial de pessoas abnegadas que se dedicam a oferecer seu trabalho em prol do desenvolvimento da humanidade. Deus salve esses homens e mulheres de boa vontade que resumem as informações, que fazem tutoriais e respondem perguntas em fóruns. Amém!

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Endorfina, meu amor: uma ode ao hormônio do bem-estar http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/04/endorfina-meu-amor/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/09/04/endorfina-meu-amor/#respond Tue, 04 Sep 2018 07:00:27 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=616

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Minha profunda e torpe depressão,
Precisa ser aniquilada,
Mas com remédio não quero não,
Uma droga não vale é nada,
Vou atrás é de uma paixão,
Alguém estimulante, liberada,
Quero acelerar meu coração,
Oh, Endorfina, minha amada!

Pra te ter dentro de mim eu corro,
Feito uma besta quadrada,
Mas sem você eu quase morro,
Oh, Endorfina, minha amada!

Se fico triste, amargurado,
Vou logo fazer um tour,
Ando muito, fico todo suado,
Oh, Endorfina, mon amour!

Sem você sou capaz de me matar,
A vida sem você não faz sentido,
Você é água, fogo, terra e ar,
A sua ausência me deixa deprimido,
Sua energia me comove,
Então, venha logo, Endorfina, my love!

Quero senti-la em todo meu corpo,
Quero ser inundado por você,
Quero ficar de pé, no topo,
Feito um cabelo cheio de laquê,
Sem você não sou nada, não me deixa,
Seja bem-vinda, Endorfina, minha gueixa!

Tu és a minha vida,
Tu és o meu vício,
Mesmo eu detestando a corrida,
Mesmo eu abominando o exercício,
Mesmo doendo tirar a bunda da cadeira,
Oh, Endorfina, tu és minha paixão verdadeira!

Endorfina, venha logo,
Se encontrar com seu amor,
Em seu prazer eu me afogo,
Fico num certo torpor,
Quero você sem camisinha,
Nossos corpos em ardente fusão,
A escolha não é sua, é minha,
Oh, Endorfina, meu grande tesão!

Eu sou aquele que te adora,
Eu sou aquele que te venera,
Eu sou aquele que te implora,
Eu sou aquele que te espera,
Quero você dentro de mim, toda hora,
Oh, Endorfina, minha quimera!

Oh, Endorfina!
Endorfina, meu amor!
Com você minha tristeza termina,
Com você se extingue o horror,
Mas talvez seja minha sina,
Estar sempre assim, de mau-humor,
Não quero ser um suicida,
Oh, Endorfina, minha vida!

Oh, Endorfina, minha doce amada!
Vou entrar na academia,
Vou dar uma marombada,
Pra te encontrar tudo que é dia,
E poder dizer-lhe sempre assim:
I’ve got you under my skin.

Mas nem tudo na vida é amor,
Você tem uma concorrente forte,
Eu luto contra ela, com ardor,
Mas ela sempre vence, que sorte,
Se sinto que preciso de outra dose urgente,
Quando seu efeito, Endorfina, acaba,
Apesar de achar você ótima, excelente,
Vence sua rival, a preguiça braba.

Oh, Endorfina, minha vida!
Eu corro pra te encontrar,
Mas você não faz nada, só espera,
Não dava pra fazer alguma coisa, me ajudar?
Não, fica aí, como uma rainha megera,
Mas tudo bem, eu aguento,
Me esforçar feito um jumento,
Só por uns minutos de alegria,
Me sinto um palhaço, um Arrelia,
Você é uma folgada, hein, beleza?
Hein, Endorfina, minha triste princesa?

Não consigo evitar, porém,
De me irritar de vez em quando,
Queria ter um grande harém,
De endorfinas me esperando,
Mas esse seu jeito difícil de ser,
Deixa minha vontade nula, sem eficácia,
Como ter você sem me mexer,
Não dava pra ser vendida na farmácia?

Oh, Endorfina, Endorfina!
Endorfina, meu grande amor!
Desisto de você, sua cretina,
Me dá um Prozac, por favor!

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Todo criativo é viciado em adrenalina e dopamina http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/08/28/todo-criativo-e-viciado-em-adrenalina-e-dopamina/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/08/28/todo-criativo-e-viciado-em-adrenalina-e-dopamina/#respond Tue, 28 Aug 2018 07:00:28 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=562

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O ato de criar em si é fácil. Tão fácil que chega a ser ridículo. Todo o problema está no entorno do processo. São tantos aspectos potencialmente desestabilizadores de nosso estado emocional, tantas variáveis ameaçadoras à nossa psique que é impossível imaginar uma espécie de manual que amenize os efeitos agressivos de uma ideia rejeitada.

Inicialmente temos o medo. Filósofos de LinkedIn vivem sugerindo alegremente que é preciso “pensar fora da caixa”, expressão que odeio. O que eles não levam em consideração, entre outras dificuldades, é o medo de sermos julgados, medo de sermos taxados de idiotas, de loucos, de débeis mentais. E esse medo está sempre presente, mesmo nas pessoas reconhecidamente criativas. Isso bota uma pressão psicológica que não é fácil de lidar. A maioria das pessoas, compreensivelmente, prefere não lidar com este estresse voluntário. Como eu disse, extrair ideias de nosso cérebro é muito tranquilo. Levá-las adiante é que faz o chão tremer.

Principalmente porque, de fato, independentemente de a ideia ser boa ou não, as pessoas irão julgá-lo, irão taxa-lo de idiota, de louco e débil mental. A questão que você precisa avaliar é puramente estatística: qual a porcentagem de pessoas que reagiu negativamente à sua ideia. As ideias mais palatáveis são aquelas em que a menor parte do público-alvo desenvolve um pensamento ofensivo com relação ao seu autor. Quanto maior o número de algozes, maior a possibilidade de a ideia não ir para frente. Mesmo uma ideia considerada de sucesso terá seus críticos ferozes. E você irá se aborrecer e se ofender com seus comentários. Os mais sensíveis ficarão magoados.

Não existe criatividade absoluta. Nada é criativo universalmente. Todas as avaliações devem levar em conta os códigos culturais do público-alvo da ideia. Como no estudo da linguística, em que Roman Jakobson definiu a necessidade de haver emissor, receptor, código, mensagem, canal e referente, na criatividade o conceito é exatamente o mesmo. Uma ideia só pode ser julgada como criativa ou não pelas pessoas que se pretendeu impactar. Imagine um plugin de jQuery que processa, manipula, filtra e monitora URLs nos atributos HREF e SRC usando elementos arbitrários (incluindo document.location.href), e cria âncoras para URLs encontradas no HTML. Hein? Não achou genial? Só se você for um nerd. Se não, além de não ter condições de saber se é criativo ou não, não lhe é minimamente relevante. Ou seja: pra você não é criativo.

Diante deste cenário complexo de opiniões, visões, percepções, padrões culturais, enfim, fica impossível a gente criar com alguma coisa parecida com o que costuma se chamar de paz de espírito. Criar é fácil, repito. Já ser um profissional criativo não é um passeio na Disneylandia. Qualquer trabalho pode te levar para o Olimpo, sentado ao lado direito de Zeus, ou arrastá-lo impiedosamente ao mármore do inferno, onde arderás por toda a eternidade. Sim, é uma situação dramática.

Muita gente que se considera criativa, não o é de fato. Sofrem menos porque arriscam menos. Não quebram paradigmas, não forçam a barra com os padrões adquiridos, portanto não perturbam a lei e a ordem. Já aquele que realmente ousa, que se joga no precipício sem saber se algo irá salvá-lo ou não, este vive caminhando sobre geleia. Suas frustrações são muito maiores que os prazeres, acredite. Por isso, uma das coisas mais importantes a se aprender para ser um criativo de verdade é saber lidar com a frustração.

Então pra quê ser criativo? A troco de quê? É masoquismo? Uma espécie de expiação, de penitência, de carma? Foi uma pessoa muito má em outras vidas então volta criativa? Quanto pior você foi, mais criativo você retorna? Talvez, quem sabe? Porém, o que nos leva a colocarmos sempre nosso prestígio em jogo é justamente esta palavra: jogo. O criativo é viciado em jogatina. Na imprevisibilidade de ganhar ou perder. Neste contexto, a adrenalina e a dopamina são drogas que não se pode menosprezar. Juntas então, formam um coquetel explosivo.

– Uma dose de adrenalina a gente toma antes de começar a criar, pelo desafio e imponderabilidade do resultado.

– Uma dose de dopamina tomamos durante o processo criativo, pelo prazer de observar uma ideia nascendo e se crescendo diante de nossos olhos.

– Como disse Leonardo da Vinci, “Uma obra nunca está pronta, apenas abandonada”, portanto em algum momento terá de ver a luz do dia. E quando chega esta hora mágica, uma dose do nosso coquetel: adrenalina, pois, independentemente de nossa opinião a respeito da ideia, a verdade só será revelada quando vislumbrarmos a reação das pessoas as quais ela foi dirigida. É aquele momento dramático de viver ou morrer. Mas não é medo, é ansiedade. A diferença entre medo e ansiedade é que a dopamina também faz parte da dose.

– Quando a ideia é finalmente apresentada é que a roleta para. Que número deu? Se a ideia for bem aceita, uma boa dose de dopamina. Já, se não, uma outra droga que não sei o nome nos invade e parece que vai nos fazer apodrecer por dentro. Mas, não se preocupe. Passa. Tudo passa. Inclusive a dopamina. Por isso o vício. Queremos sempre mais e mais.

Mas e se a ideia for ignorada? Bem, é curioso. Neste caso, você ouvirá muitas barbaridades sobre você e sobre ela. E ficará machucadinho. Se ninguém prestar atenção nela, você, seu ouvido e seu sistema nervoso serão poupados. Porém, em criatividade, o silêncio é o código do fracasso. Mas apesar de ser humilhante, pelo menos você vai sofrer bem menos do que se for execrado.

Como todo mundo, meu maior prazer está em criar. O ato, o malabarismo mental, a ginástica psicológica, a reflexão com propósito. A quebra de paradigmas. O surpreendente. O emocionante. O novo. Sou 50+, mas ainda me encho de dopamina e adrenalina todos os dias. Confesso que sou viciado e não pretendo ir para a reabilitação enquanto viver. Como diria Amy Winehouse: “No, no, no!”.

Chego a ter crises de abstinência. Se fico alguns dias sem criar alguma coisa, qualquer coisa, começo a ficar de mal humor, sensação de fracasso, desânimo. Para deixar claro, eu disse qualquer coisa, mas dentro de um conceito objetivo: precisa ser pra valer. Criar sem propósito não é criar. Criatividade só merece este nome se resolver ou tentar resolver um problema real. Do contrário é só uma brincadeira de criança. Eu, como bom adicto, preciso me sentir desafiado e lutar alegremente contra os obstáculos até achar uma resposta.

Para manter o que resta de minha sanidade, desenvolvi uma forma de diminuir a frustração e, consequentemente, as doses daquela droga sem nome. Provavelmente foi uma carapaça que criei psicologicamente para sofrer menos e continuar fazendo o que gosto. Eu crio e tento ficar relaxado com relação à reação das pessoas, diminuindo a minha expectativa ao máximo que puder. Não é possível a indiferença total, só se eu fosse psicopata. Bem, talvez eu seja, mas até agora, ainda me incomodo com o fracasso e com a indiferença. Em compensação não fico especialmente exultante com o eventual sucesso.

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Escrever pode ajudar a desenvolver o pensamento criativo http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/08/21/escrever-pode-ajudar-a-desenvolver-o-pensamento-criativo/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/08/21/escrever-pode-ajudar-a-desenvolver-o-pensamento-criativo/#respond Tue, 21 Aug 2018 07:00:29 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=553

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A criatividade não é a organização do caos. Isso é mito. Caos só gera mais caos. Criatividade é, eminentemente, resultado da estruturação do pensamento. Nosso cérebro não suporta, tem nojo de bagunça. Ele busca lógica o tempo todo. Por isso adora ter tudo organizadinho em suas caixinhas mentais para saber onde as coisas estão quando precisar delas. A falta de lógica, organização e estrutura gera insegurança e pavor. E o processo criativo só irá deslanchar de verdade se você não estiver com o freio de mão puxado. Não quer dizer que alguém que não estruture o pensamento seja incapaz de criar, não ousaria afirmar uma coisa destas. Porém, o samba-do-criolo-doido criativo fará o sujeito perder muito tempo e dispender muito mais energia do que se deixar as coisas mais organizadas. Muito mais.

Me dá chikungunya cada vez que leio aqui na internet aquelas listas infames que prometem ensinar a ser mais criativo com 5, 7, 10, 50 regrinhas. Pelo-amor-de-deus! Quanta bobagem. Mudar o caminho que faz para o trabalho, comer um ovo azul no boteco e conversar com seu avô podem ser experiências muito ricas, mas não têm nada a ver com ser mais ou menos criativo. Também não é tão difícil como outros gostam de fazer parecer. Criar é razoavelmente fácil, contanto que você saiba o caminho. E não confunda fácil com relaxante. Não, colega, criar é fácil mas dá trabalho.

Aprendemos a escrever não para sermos escritores, mas para nos ajudar a aprender todo o resto

O importante para o cérebro é aprender a criar. E a gente só aprende a criar criando. E quanto mais a gente cria, mais o cérebro entende, cognitivamente, o processo. Você pode não saber verbalizar o modus operandi deste aprendizado, mas o seu cérebro sim, pois estará alguns degraus acima do que estava antes de você desafiá-lo. É o que eu chamo de Aceleração Cognitiva: ao exercitar a criatividade, o cérebro, naturalmente, vai encontrando as respostas de forma mais rápida. Como em qualquer atividade humana, o treinamento aprimora a técnica. E os resultados são, na maioria das vezes, melhores.

Existem muitas maneiras de estruturar o pensamento e promover o desbloqueio criativo. E uma delas é por meio da escrita. O ato de aprender a escrever quando somos crianças não está relacionado à nossa vocação profissional lá adiante. Aprendemos a escrever não para sermos escritores, mas para nos ajudar a aprender todo o resto. A redação, portanto, não é necessariamente um fim, mas um meio para desenvolvermos nossa capacidade de pensar. Mais que isso: é uma ferramenta poderosa para estimular o pensamento criativo. O ato de escrever organiza nosso pensamento, coloca estruturas que auxiliam nosso processo mental e dá força à nossa capacidade de criar. Mesmo para pessoas que trabalham com comunicação visual, ou seja, mesmo para aqueles que não lidam diretamente com a escrita.

É por isso que desenvolver a escrita criativa é para todo mundo. Muito mais do que fazer o texto deslanchar, através do texto podemos trabalhar a estruturação do pensamento, construindo uma lógica criativa para o desenvolvimento de qualquer atividade. Pode ser uma redação, mas pode também ser um design, um processo industrial ou uma nova rede social. Um bom curso de redação criativa não serve só para aprender a escrever. É para aprender um novo jeito de criar.

O desbloqueio criativo por meio da escrita fará com que você descubra atalhos em seu próprio raciocínio para chegar mais rápido a resultados criativos. Você pode até pensar que não gosta de escrever. Mas de criar gosta, não gosta?

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Dieta rica em sapos diminui problemas de relacionamento http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/08/14/dieta-rica-em-sapos-diminui-problemas-de-relacionamento/ http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/2018/08/14/dieta-rica-em-sapos-diminui-problemas-de-relacionamento/#respond Tue, 14 Aug 2018 07:00:18 +0000 http://henriqueszklo.blogosfera.uol.com.br/?p=546

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O ser humano por uma questão genética é obrigado a viver em grupo. E para que isso seja possível, acabamos por desenvolver a capacidade de relevar certos comportamentos alheios. Em nenhum grupo social você vai encontrar cabeças idênticas, indivíduos que pensem da mesma maneira nos mínimos detalhes. Isso é natural e, obviamente, desejável.

De certa forma, criamos um escalonamento de tolerância. Algumas coisas não nos incomodam, outras mais ou menos e tem aquelas que não suportamos ou admitimos. Esta última cria uma cizânia em nosso grupo social até que uma das partes se renda. Do contrário o grupo será quebrado e, para que ele sobreviva, alguém deverá abandoná-lo ou admitir enfaticamente que estava enganado.

Parte do problema é a tendência que temos de imaginar que as pessoas devem ter a uma visão de mundo idêntica à nossa, o mesmo código ético e moral, o mesmo comportamento e as mesmas reações aos acontecimentos. Porém, as pessoas não são como nós. Para o bem ou para o mal. Mesmo que a gente tente entender o lado delas, nossa decepção permanece e, muitas vezes gera o desejo de não contar mais com sua agradável companhia.

A política, na verdade, é a arte de lidar com estas diferenças e tentar acomodar a visão de todos os envolvidos de forma a que ninguém se sinta violentado ou ultrajado e permaneça razoavelmente satisfeito e fiel ao grupo. Porém, grande parte das pessoas tem um limiar de tolerância muito rasteiro e qualquer coisinha as tira do sério e da racionalidade. E é a baixa tolerância às diferenças que geram violência e dificuldade de socialização.

O resultado deste mal-entendido é a decepção. Nos decepcionamos com as pessoas pelos mais diversos motivos: justos, injustos, relevantes, desimportantes, grandes e pequenos. Todo mundo diz que quanto mais esperamos de alguém maior é a possível decepção. É verdade. Talvez por isso seja melhor não esperar muita coisa de ninguém. Digo isso como se fosse fácil para nós escolher se vamos esperar algo de alguém ou não. Porém é um exercício necessário e válido. E não precisamos encarar isso como um desejo de desprezar o outro ou desenvolver uma amarga desilusão com a raça humana. Não. Devemos fazer isso mais como uma espécie de seguro. O fato de as pessoas não serem como queremos é um fato imutável. Então, pra que sofrer mais do que o necessário?

Aí se fazem necessárias outras capacidades que devemos desenvolver para o bom convívio social: a paciência e compreensão, o que os intolerantes chamam de “sangue de barata”. As pessoas com mais estômago têm mais chances de ter uma vida socialmente saudável. Estômago que comporte uma dieta rica em sapos de todas as cores e tamanhos. Ou talvez não seja bem o estômago. Talvez elas simplesmente não sejam tão exigentes com relação a certos conceitos morais e éticos, os relevando sem sofrimento. Pode ser também medo de ficarem sozinhas, maturidade que lhes confira a capacidade de entender melhor a natureza humana ou ainda, por interesses pessoais ou profissionais, simplesmente a capacidade de ignorar os vícios alheios.

Porém, tem muita gente com imensa dificuldade de abstrair a decepção e que acaba colocando um ponto final nas relações. Certos assuntos em particular as deixam completamente destruídas por dentro por serem questões fundamentais em suas vidas. Pessoas como eu.

Ingratidão, falta de palavra, desonestidade, desrespeito pessoal ou profissional, mentira, mesquinhez e falta absoluta de empatia com os menos afortunados são alguns dos itens de minha lista negra pessoal. Nestes assuntos não faço concessão. Não dou uma segunda chance. Não perdoo. Afinal, não tenho sangue de barata. É claro que em alguns casos tive de saborear alguns anfíbios da ordem Anura, mas isso é inevitável, principalmente quando precisei conservar meu emprego enquanto não encontrava outro, manter parcerias estratégicas para meu negócio ou simplesmente para segurar um cliente mimado e vingativo.

Confesso, tenho dificuldade para lidar com as pessoas quando elas se mostram como são em sua essência. Socialmente todo mundo é bacana. Todo mundo vive o Facebook way of life. Mas existem aqueles momentos estratégicos onde podemos conferir quem elas realmente são. E, na maioria das vezes, não são aquilo que se esperava ou gostaria. Eu sei que o problema é meu e não delas. Só que a minha consciência não as redime de nada.

Rompi com muita gente em minha vida por causa de apenas um evento. E não faço distinção de posição social, de nível de amizade e até de relações familiares. Sempre gostei de enxergar as pessoas como indivíduos, não conferindo a elas um foro especial apenas por pertencerem a um grupo x ou y. Me decepcionou profundamente, tá fora. Mas a melhor parte vem agora. Eu não guardo mágoa de quem me decepciona. Por algum mecanismo maluco na minha cabeça, após algum tempo de decepção, eu simplesmente me desconecto emocionalmente e passo a não sentir nada. Defesa, eu acho.

Obviamente, tenho plena consciência de que de tempos em tempos também decepciono as pessoas que de alguma forma confiaram em mim. Não estou dizendo que a obrigação de todos é ser o que todo mundo espera. Na verdade é ao contrário. A questão é como você lida com isto. Eu, covardemente, assumo, me afasto de quem me decepciona e, em contrapartida, entendo perfeitamente quem se afasta de mim pelos mesmos motivos.

Hoje em dia, não espero quase nada de ninguém. Certamente um mecanismo de proteção que desenvolvi para diminuir os índices de decepção em minha vida, e como resultado prático posso dizer que logrei um certo êxito. Mas, por outro lado, isso me fez mais refratário às relações pessoais. Em princípio, não confio em ninguém e isso é um mal começo para um relacionamento. Ou talvez seria mais correto dizer que nem um começo é.

Quem sabe a solução seria fazer uma transfusão de sangue, trocando o meu pelo de uma barata? Mas aí vou correr o risco de perdoar todo mundo, o que, para mim, seria imperdoável.

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